nível de secretismo: incendiário
Nem sei por onde começar.
Talvez pelo príncipio, pela infância.
Sempre me foi ensinado que só há 2 formas de haver fogos florestais: ou pelas altas temperaturas verificadas no verão, qual floresta em auto-combustão devido a precária limpeza do local ou por influência humana, sempre com o mote dos interesses monetários. Um miúdo pensa logo: bom, querem queimar aquilo tudo para a seguir se construir ali um condomínio privado ou uma urbanização carregada de prédios de 10 andares e 10 assoalhadas de luxo para os barões e duques se passearem nos seus Mercedes e BMW's. Talvez aproveitar a madeira queimada para mobilar as ditas habitações. É uma teoria. A ideia é contratar um pirómano por encomenda, um "empregado" que cumpre o seu papel seguindo as ordens de um mestre e mentor para servir os seus propósitos económicos. São ideias simples que vigoram na minha cabeça até hoje, que desculpam e mantêm a conversa num nível polémico, o do desleixo ou o do dinheiro.
Mas isso cada vez mais me soa a filme de acção, com o Kurt Russell no papel principal e em que o gajo morre no fim, afogado ou não sei. Com os anos a passar, vejo que há uma terceira forma. Uma que não precisa haver razão e, mesmo havendo, baseia-se em princípios imorais e sem qualquer atenção às consequências que daí advém. Não precisa haver um ordenado pago por uma instância superior, não precisa haver um motivo, apenas se ateia um fogo por enfado. É o pirómano do "porque sim". É o pirómano do "apeteceu-me". É o pirómano do "levei uma multa da GNR porque fui apanhado sem carta e, para me vingar, fui atear vários fogos na serra do Caramulo".
E isso é que é difícil de entender.
O incendiário dos vários fogos da Serra do Caramulo, onde morreu Ana Rita, do quartel de Alcabideche, teve como motivação o facto de ter sido apanhado sem carta pela GNR e ser multado por isso. Achando que era uma ilegalidade pequenina, o atleta resolveu pegar numa mota e isqueiro e ir pegar fogo a uma serra. Pelo meio, voltou a proceder na contra-ordenação anterior - por pirraça, certamente - e assassinou 3 bombeiros. Mas ele pensava que eram os elementos da GNR que o multaram que iam lá de mangueira apagar o fogo? Porquê pegar fogo a uma serra? Porque não pegar fogo a um McDonalds e pedir um McFlurry no Drive-in, só para arrefecer? Ou talvez ir tirar a carta de condução, evitando assim a razão do seu malogro?
Para mim, a motivação não tem sentido. Isto é o equivalente ao meu gato mijar no tapete para marcar território e eu ir ao veterinário cortar os tomates ao cão. É como a minha mulher me trair com todo o departamento de bombeiros (salve a ironia) e eu trai-la com o meu melhor amigo, estilo passivo, para lhe dar uma lição.
Claro que todo o pirómano tem orgulho no que faz. Este não é excepção e resolveu divulgar fotografias da sua obra prima no Facebook, onde ainda tratou de homenagear a falecida Ana Rita. Falando de vaidade e soberba, o brio que ele tem pelo seu trabalho é ímpar. Este de certeza que não cospe no prato onde come, mas deve comer a sua salada no churrasco, chamuscada, bem boa.
Por fim, o indivíduo poderá ser julgado pelo crime de incêndio doloso e três homícidios. Eu propunha uma alteração da lei e, ao invés de processo criminal, sugeria achar um incêndio ainda a deflagrar e colocar esta besta no seu epicentro com um livro do código da estrada, um balde cheio de gasolina e uma camisola de lã com gola alta, não vá o menino passar frio.
Por fim, o indivíduo poderá ser julgado pelo crime de incêndio doloso e três homícidios. Eu propunha uma alteração da lei e, ao invés de processo criminal, sugeria achar um incêndio ainda a deflagrar e colocar esta besta no seu epicentro com um livro do código da estrada, um balde cheio de gasolina e uma camisola de lã com gola alta, não vá o menino passar frio.
Hoje é dia 4 de Setembro, data assinalada no calendário com a queda do império de Roma, delimitando o início da Idade Média, em 476 DC. Desculpem, não tenho piadas para isto. Mas de certeza que houve alguém a pegar fogo a alguma coisa naquela altura, deixando muita, muita gente com vontade de fazer justiça pelas próprias mãos. A diferença é que, na altura, era crucificados (literalmente). Hoje em dia, pagamos-lhes dormida e refeições com os nossos impostos. São outros tempos.
The L Files
O L é de Labaredas
edit: afinal foram quatro bombeiros.
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