sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Ficheiro do Condutor Português

nível de secretismo: mentecapto


Todos os verões é a mesma coisa. A GNR sai à rua e inicia a operação "Verão Seguro". É aquela altura do ano em que há radares escondidos em arbustos, operações STOP ao virar da esquina e um grande número de efectivos - é assim que se diz lá na terra - espalhados pelas estradas portuguesas. Os militares vão para a rua com os seus coletes verdes fluorescente e os seus enormes cassetetes e os seus uniformes aiii, Meu Deus... OK, filme errado, vocês perceberam, são agentes da autoridade. 

Ora, isto é uma forma de refrear os ânimos de quem tem o pé pesado, é um alerta para os condutores e desperta os sentidos dos mesmos na estrada. Para o ser humano normal isto seria mais que suficiente para induzir uma atitude defensiva na sua condução. Se não o perigo de falecer contra um pinheiro a 200km/h, pelo menos a desagradável sensação de ficar €120 mais leve. No mínimo.

Mas isto é Portugal... Ao que parece tem portugueses. E, mesmo perante as evidências, vamos sempre espernear e fazer birra.

Eu vi a reportagem da RTP sobre a matéria. A estrada escolhida foi o IC 1, via mais movimentada do país por estas alturas. Boa escolha. A Brigada de Trânsito (BT) montou um radar e, metros mais à frente, lá estavam os militares a mandar encostar os condutores com excesso de velocidade. Na peça podia-se verificar o agente da BT a explicar o porquê de ser mandado parar, a razão pela qual ia ser autuado e o valor da coima. Tudo simples e fácil de aceitar perantes as provas apresentadas, né?! Não, não. Nop!

A primeira conversa é interessante. Não me recordando de forma exacta como esta decorreu consigo lembrar-me das ideias gerais. Vou fazer uma reconstrução baseada em factos reais.

Primeira conversa. Senhor com mais de 50 anos, óculos de ler.

O senhor sabe que ia em excesso de velocidade?
- Como assim?
- O senhor ia a 120km/h numa zona que só permite circular a 90km/h.
- Ai é? Eu gostava que o senhor me explicasse onde é que isso está escrito na estrada.
- O senhor está num IC (itenerário complementar), logo, um veículo ligeiro de passageiros tem velocidade máxima permitida de 90km/h.

Cama? Quer dizer, como? Então, mas onde é que isso está escrito? A lata deste menino a dizer que só se pode andar a 90km/h aqui. Onde é que está escrito, vá?! Hmm, espera, estou a começar a lembrar-me. Acho que... espera, espera... código, código. É qualquer coisa com código, aiiii, está-me mesmo debaixo da língua... código... CÓDIGO DA ESTRADA, É ISSO! Sabes, aqueles dois exames que tens que fazer, um teórico e outro prático em que necessitas de saber velocidades, as várias vias e estradas, pesos de veículos, luzes, sinais, essas merdas, para poderes estar habilitado a conduzir. Se eu fosse agente de autoridade e apanhasse este senhor pela frente pegava-lhe na carta de condução, entregava a um bando de violadores com francas tendências homossexuais e dizia:

- Acompanhe os meus colegas por detrás daquele morro que eles explicarão tudo o que senhor precisa saber sobre velocidade. E eles repetem, se for preciso.

Segunda conversa. Uma senhora, óculos escuros e com excesso de peso e retórica.

- Isto é só para nos irem ao bolso. É uma vergonha! Porque é que vou ser multada?
- Já lhe disse, a senhora passou no nosso radar e ia em excesso de velocidade.
- Isso é mentira, não é verdade!
- É mentira?
- É sim! Então eu ia atrás duma roulotte, como é que podia ir em excesso de velocidade?

STOP.
Pois. É um argumento bom como qualquer outro. O velocímetro que se encontra à frente dos olhos já está em desuso, agora temos de ter uma roulotte à frente para saber a que velocidade vamos. A compra é um bocado dispendiosa, mas é garantido ao condutor comida e dormida ambulante e uma medida de velocidade bastante exacta. Toda a gente sabe que uma roulotte que ultrapasse os 90km/h rebenta logo e só ficam as rodinhas. É tipo airbags só que em vez de proteger e salvar vidas, mata tudo o que é bicho que esteja lá dentro. Excepto se o ocupante estiver na sanita, aí há um campo de forças, uma bolha Actimel, vá. Nunca os Lactobacillus Casei Imunitass foram tão úteis como agora o são na indústria automóvel. Bendita porcelana.

Aliás, Isso está tudo no novo código da estrada para sair no final de 2013. A explosão de roulottes em excesso de velocidade e a nova medida de velocidade a implementar em Portugal. Os americanos têm as "milhas por hora", a Europa tem (maioritariamente) os "quilómetros por hora", nós teremoss os "eu ia atrás duma roulotte". Por hora. Para vocês terem uma ideia isso é para aí cinco vezes mais que o "eu ia atrás dum tractor por hora", medida de velocidade utilizada na Antárctida pelo Pinguim Agricultor, uma subespécie mais simples e pobre do Pinguim Imperador.

Hoje é o Dia do Artista. Nada como celebrar sermos portugueses neste dia. Felicitações então.

The L Files
O L é de Lactobacillus Casei Imunitass, nome do meu próximo filho


2 comentários:

  1. Bom...este foi sem dúvida o teu melhor post!! Ri do princípio ao fim? Mas o pior de tudo foi constatar que dou portuguesa! Shame on me!! Muito bom..parabéns***

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  2. Muito obrigado por rebolares a rir. Tu rebolaste, certo?! É sempre assim cmg quando rio do princípio ao fim de qualquer coisa. Prefiro estar sobre uma carpete se desconfio que vou ter um riso demorado. Deve ser porque o chão lá de casa estava sempre cheio de estalagmites.

    Estou a divagar...

    Obrigado, cara portuguesa amiga

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