quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Ficheiro do Natal

nível de secretismo: muito estúpido, muito mesmo


Ah, o Natal.
Essa época de intensa festividade, paz e amor. Eu disse paz? Peço desculpa, paz só se for o som de uma pá pelos cornos abaixo de milhões de portugueses, uma bela duma onomatopeia de pancada seguido dum desmaio colectivo de toda uma nação. 

A malta aparvalha um bocado com o Natal, não é? Eu tenho vindo a perder o gosto pela época natalícia desde que eu descobri que afinal não existia um gordo vestido de vermelho que descia pela chaminé com um saco de prendas. Isto perdeu um bocado a magia a partir daí. Também era de desconfiar, um badocha caber numa chaminé e nunca ficar cagado de fuligem é obra. Quem é que iria acreditar numa história dessas? Só um puto com muita imaginação como eu. Era muito crédulo e inocente. Eu nem tinha chaminé lá em casa e mesmo assim acreditava que o gajo entrava pelo exaustor do esquentador. 

Em que medida é que o consumismo selvagem e exacerbado é fofinho e se coaduna com o Natal? O que é que as filas de trânsito, de gente e de gente para a casa-de-banho contribuem para esta época festiva? O que é que uma loja da Primark, com centenas de pessoas a ziguezaguear, tem para oferecer no que concerne a amor, paz e harmonia, excepto o facto de primar pelo seu significado antónimo? 

Eu, que sigo trabalhando num site de venda de produtos e experiências online, é que agora percebo o bicho que o típico português se torna. Nada é tão equilibrado e harmonioso como um site de vendas pela altura do Natal. Imaginem um casal de bichas, um israelita  e um palestiniano que gosta muito de cachorros quentes e quer oferecer uma pele de prepúcio ao israelita pela altura do Hannukah, mas a encomenda não chega a tempo e isso acaba por traduzir-se num divórcio feio em que o palestino fica com metade do dinheiro do israelita e arranja um novo namorado brasileiro chamado Sansão. É esse género de confusão e catástrofe que vos estou a falar.

Ai, que a palete de queijos que encomendei não vai chegar a tempo do Natal. Ui, que a trotinete que o meu sobrinho sonha ter desde que sabe andar e lavar-se debaixo dos sovacos já não há em azul. MEU DEUS, que as garrafas de vinho que pedi partiram-se pelo caminho e já não chegam a tempo de embebedar a família toda no Natal. E de quem é a culpa? É minha, é a do colega do lado que está a atender aquela besta execrável, é de todos nós. Portanto, toca de abrir o rabinho e sentirmo-nos mesmo muito incompetentes, sem nunca saber verdadeiramente o que se passa. Cheguei à véspera de Natal com a nítida sensação de sintomas iniciais de nanismo. E depois de passar por 2 semanas de choros e lamentos das mais variadas espécies e pelas mais variadas razões, tendo a concluir que os portugueses são uns meninos birrentos e bebés chorões. Ah, e mal-educados e cheiram mal da boca, provavelmente pela imensa quantidade de falos que passam por aquelas beiças ao longo do ano. Sim, sim! 

Nada é mais importante que a prenda que devia ter chegado a tempo, mas não chegou. Furacão nas Filipinas? Não, não, o Skate Duas Rodas que está em falta na árvore lá de casa é que é. 5 miúdos levados pelo mar e provavelmente mortos? Concerteza desagradável, mas o Helicóptero Telecomandado pelo qual o meu filho passa a vida a bater punhetas é que é de vital importância. Nelson Mandela faleceu? Então e as minhas fotos personalizadas, todas iguais, com meio metro de altura para oferecer a 50 membros da família, porque dou uns ares de batráquio com trissomia 21 e não estou para me estar a chatear mais e pensar numa prenda decente para cada um deles? Oh pá, vão mas é besuntar-se com mel e mandem-se para uma caverna cheia de ursos.

Não bastasse tudo isto, parece que o cosmo gosta de me testar a paciência e, por estas alturas, lembra-se sempre de me pregar uma partida ou outra. Desta vez, foi uma jante rachada e previsível pneu vazio no meu fantástico Fiat Stilo. Agora tem uma jante branca à frente, só para dar aquele estilo de Malveira da Serra com um fio de azeite. Pior do que isso foi ter trabalhado ao Domingo. 2 VEZES! SEGUIDAS! 

Foi aí que comecei a pensar que isto do Natal não é para mim (foi antes). Deixem-me colocar isto em termos que vocês entendam o meu total desprezo pelo Natal. Para mim, o Natal é como chegar a casa a morrer de fome depois dum jogo de futsal de 2 horas e servirem-te peixe cozido com batata cozida e feijão verde. Natal é como acordar numa banheira cheia de gelo sem um rim. É como ir para a cama com uma gaja depois duma noite bem regada e verificar, no dia seguinte e todo fanfarrão, que afinal era um gajo. 

Enfim, o Natal é o feriado com maior potencial, mas é a pior altura do ano para se viver por causa dos seres-humanos, derivado da sua necessidade de exibicionismo, ostentação e pelo facto de serem animais francamente estúpidos e de visões estreitas. É um feriado bom para animais irracionais, não tanto para seres sencientes. Eu, se pudesse, gostaria de entrar em coma durante o mês de Dezembro ou hibernar. Ou falecer, desde que ressuscitasse como o outro e ainda a tempo de aproveitar a passagem de ano, esse sim, um feriado decente e maravilhoso: carregado de alcoól, demagogia e más decisões.

Em suma, o meu feriado favorito. 

Depois da tempestade vem a bonança né?!
E não, este meio de comunicação não deseja Feliz Natal a ninguém. Aqui não há Natal, favor deslocar-se ao blog seguinte.

Hoje é dia 26 de Dezembro, o primeiro dia a seguir ao Natal. Ah, maravilha. Hoje até acordei penteado e com um sorriso Pepsodent. Parece que meço mais 2 metros que antes e tenho mais 5kg de chicha entre as pernas. Ah, maravilha mesmo.


The L Files
O L é de Livre

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